O abismo que separou as mulheres da ciência Escrito por Aline Guimarães Editado por Milena Marília Nogueira de Andrade De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), menos de 30% dos pesquisadores de todo o mundo são mulheres. Apesar de, atualmente, tal assunto ser mais discutido e combatido, a disparidade de gênero nas áreas científicas ainda é bastante notável e desencoraja meninas a seguirem essas profissões. Mas por que as mulheres ainda são minoria? Para alguém com pouco – ou nenhum – conhecimento sobre esse problema, é fácil responder que “se existem poucas cientistas, é porque as mulheres não gostam e/ou não tem interesse nessa área”. Em outros casos, comentários podem vir como brinde: “As maiores e mais importantes descobertas científicas foram feitas por homens!” Por muito tempo, o espaço feminino na intelectualidade foi proibido. No Brasil, por exemplo, somente por volta do século XIX que as mulheres – provenientes de famílias ricas – tiveram acesso à educação, sendo essa mais voltada à forma como se comportariam em sociedade. O cálculo, inclusive, era permitido apenas aos homens até então. No começo do século XX, a carreira científica já era enxergada como masculina. Seguindo o mesmo tipo de pensamento, as diversas áreas de conhecimento foram se dividindo entre o que deveria ser exercido por um homem e o que deveria ser exercido por uma mulher. Por exemplo, a Filosofia, a Geologia e a Matemática seriam profissões masculinas. O cálculo, inclusive, era permitido apenas aos homens até então. Além disso, quando não havia a proibição do acesso feminino a essas áreas, ocorria o fenômeno de ocultação. Exemplificativamente, temos Rosalind Franklin, britânica que conduziu os estudos sobre o formato do DNA. Franklin conseguiu detectar e fazer anotações acerca da estrutura da molécula. Todavia, com acesso às observações da cientista, James Watson e Francis Crick, guiados pelo chefe Maurice Wilkins, confirmaram a estrutura do DNA, o que rendeu um Nobel de Medicina para o trio no ano de 1962. Em nenhum momento foi dado créditos à cientista e tampouco foi citado seu nome. Além disso, Wilkins e Watson, através de cartas trocadas entre os dois, chamavam Rosalind de “bruxa” e não admitiam a presença dela no laboratório. Portanto, como seria possível para essas mulheres se sentirem compelidas à ciência? E, pior ainda, se algum interesse científico existisse , este teria sido imediatamente ofuscado ou desencorajado. No livro Um teto todo seu, de Virginia Woolf, a escritora faz a seguinte reflexão: “Alguém deveria ter colocado um microscópio na mão dela. Alguém deveria tê-la ensinado a admirar as estrelas e raciocinar cientificamente. [...] Ninguém a ensinava.” Hoje, muitas barreiras foram ultrapassadas em relação à desigualdade de gênero, mas muitos outros obstáculos ainda estão por vir. A inserção da mulher na ciência é equivalente à redução desse grande abismo, uma vez que, em situação de protagonismo, as próprias cientistas têm a capacidade de criar tecnologias inclusivas e promover ambientes onde homens e mulheres dividam a área científica. Além disso, inserir as meninas desde cedo nesses campos contribui ainda para aproximá-las da ciência, desconstruindo estereótipos. Assim, mesmo com tantas adversidades, atitudes como essas nos fazem esperar por um futuro com equidade, e, como dito por Woolf, “tranque as bibliotecas, se quiser; mas não há portões, nem fechaduras, nem cadeados com os quais você conseguirá trancar a liberdade do meu pensamento.” Referências - Woolf, Virginia. Um teto todo seu. Tordesilhas, 2014. - Chassot, Attico. "A ciência é masculina? É, sim senhora!..." Revista Contexto & Educação 19.71-72 (2004): 9-28. - https://canaltech.com.br/internet/mulheres-historicas-rosalind-franklin-a-injusticada-mae-do-dna-78101/ - http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=422 - https://news.un.org/pt/story/2020/02/1703721 - https://blogueirasfeministas.com/2017/09/04/a-trajetoria-de-exclusao-da-educacao-feminina-no-brasil/
1 Comment
“Too Pretty to Be a Geologist” By Paula Alejandra Sarmiento Linares Translated by Adrián Grijalba In my life, a few times I have been told the quote that titles this writing. The first time, I was a fresh-woman at geology major, and it came for someone (male, white, heterosexual, with a fancy degree) who spoke in a flattering tone. I will not lie to you, I was flattered because I felt I stood out among many women, not only because of my physical appearance (as, for this person, I should look like the undesirable stereotype of scientific woman that roots on what is depicted in The Big Bang Theory, something like Amy Farrah Fowler), but also because it included me within the low percentage of women who engage in a university major to which, moreover, few have the chance (or interest) of belonging. This type of comments raises a few questions: ¿Is it really flattering to say that a woman is too pretty to be a geologist, scientist or engineer? What if we change the word “pretty” to “Latin-American”, “emotional” or “woman”, does it make any sense? ¿Is it OK that the percentage of women enrolled or interested in science majors is as low as it is? There is a wrong idea that says that science was made for men, based on groundless arguments: during elementary and middle school, there is an emphasis on boys to be successful in subjects such as mathematics of physics while, on girls, it is directed towards languages and human sciences. From their early years, it is imposed on women the idea that their role within a community is to perform care and house-holding tasks; similar to the economic systems, where women are frequently enrolled as nurses, assistants, or secretaries; while men are destined to engage in roles demanding ingenuity and creativity that lead to great discoveries (mind the saying “behind every great man, there is a great woman” -wink wink-). For society, the rational aspects are always related to masculinity and emotional aspects to femininity, thus male are considered the fittest to engage in science, not women: on 2016, less than 30% of world researchers were women (United Nations, 2016) and on 2019, female personnel in science-related charges in the Spanish National Research Council (CSIC, for the acronym in Spanish) amounted to 35.9 % (Comisión de Mujeres y Ciencia del CSIC, 2019). Sadly, these prejudices were depicted in a study conducted by Inoaka Amarasekara, an Australian researcher in communication sciences, with the collaboration of Will Grant, where they showed how is it more difficult the path to becoming scientific communicators in YouTube for women, in comparison to men. According to the numbers, female communicators had a much higher proportion or commentaries related to their appearance (4.5 % for women against 1.4 % for men) and sexist or sexual (almost 3 % for women against 0.25 % for men) (Jeffries, 2018). These arguments, besides the insults disguised as compliments towards female scientists or engineers, may constitute dangerous discourses that lead to discrimination (from racism to xenophobia), all kinds of harassment, abuse of authority, patronization, lack of validation of female intellectual contribution, among many other issues based on stigmatization on what women are able, or not, to do, say or feel. Another main reason why infant and adolescent girls are not interested in Science, Technology, Engineering and Mathematics (STEM) is the lack of visibility of female role models in elementary and middle school. Just as the dinosaur extinction is not the only great extinction in the history of earth, Marie Sklodowska Curie is not the only model of a scientist woman. Women like Margaret Hamilton, considered the first software engineer, whose role in Apollo XI mission was vital (López, 2017); more currently, Emmanuelle Charpentier and Jennifer Doudna, Nobel Prize in Chemistry of this year, or Katie Bouman, the woman behind the capture of the first photograph of a black hole; all are great examples that women have a great relevance in sciences. There are also women such as Hedy Lamarr, Austrian inventor of RF waves retransmission systems (Morrón, 2015), who, besides her great career in the cinema industry, was also the first actress to appear naked on the big screen; or one of the protagonists of The Big Bang Theory series, who is also a writer, singer and doctor in neurosciences, Mayim Chaya Bialik, and also has a great artistic career (apart from the awful role she had to embody in the aforementioned series): These women are proof that we should not be biased. It is not necessary to have a girl lose her interest in aesthetics, arts, or anything that may be within her heart in order for she to be interested in planets, numbers, chemistry and other related areas. As a matter of fact, when a human being is highly interested in both topics, becomes able to correlate them and contribute in both fields. As women, it is difficult to face the challenges raising from the struggle against these dogmas and to gain a place within the scientific community, which is not impossible, and is a responsibility of all, men and women who belong in this community. Time has shown that science is not only for men and they should not be the bearers of our access to academic opportunities. We are able to go abroad to complete a major, validate the knowledge we develop though our projects, and many other things we would be able to do on our own if those gender prejudices were not present. Neither should these opportunities be reduced to us based on the lifestyle we choose or the interests we have. Finally, being pretty, women or Latin-American does not make us less intelligent, empowered or scientists. This year I was told again that I was too pretty to be a geologist. This was no longer a compliment for me, but the reminder of the struggle of female scientist to build our path and place in the academic and work fields related to sciences, of the difficult, yet satisfactory, this has been, and the excuse to write this Blog entry. Thank you so much to the editors of GeolatinasBlog, Ale and Angelique for letting me be the voice in front of this important issue and making a little place for me in their awesome initiative. I would also like to say thank you to the work group and the editors Adriana and Adrián. And also, you, thank you for reading. Author's notes: Many of the ideas herein mentioned are retrieved from friends', colleagues' and own anecdotes. It is sad we had to go through these experiences, but these are what gives us the drive to let everyone know women are here, in the sciences, to stay. These ideas are also supported by the podcast “Womansplaining”, specifically in the episodes: “¡Marie Curie no existe!” and “¡No puedes usar esa trusa sexy en el laboratorio!” , which I fully recommend. References
Comisión de Mujeres y Ciencia del CSIC. (2019). Informe Mujeres Investigadoras. Madrid, Spain: Consejo Superior de Investigaciones Científicas. Jeffries, A. (July 18, 2018) Las dificultades que enfrentan las mujeres que hacen ciencia en YouTube. The New York Times. López, A. (June 7, 2017). Margaret Hamilton: “La primera ingeniera de software”. Retrieved from Mujeres con ciencia: https://mujeresconciencia.com/2017/06/07/margaret-hamilton-la-primera-ingeniera-software/ Morrón , L. (November 30, 2015). Hedy Lamarr, la inventora. Retrieved from Mujeres con ciencia: https://mujeresconciencia.com/2015/11/30/hedy-lamarr-la-inventora/ United Nations. (2016). Women and girls in science day. Retrieved from https://www.un.org/es/observances/women-and-girls-in-science-day/ “Eres demasiado linda para ser geóloga” Escrito por Paula Alejandra Sarmiento Linares Editado por Dr. Adriana Guatamé-García Un par de veces en mi vida he tenido que escuchar la frase que da título a este escrito. En la primera ocasión, yo era una estudiante de primeros semestres de geología en la Universidad, y la escuché de una persona (hombre, blanco, heterosexual con un título académico ostentoso) en un tonito que hacía sonar la frase como un halago. No les voy a mentir, en ese momento lo tomé como un cumplido porque sentí que yo sobresalía entre un grupo de mujeres, no solo por mi apariencia física (ya que, para este personaje, yo, como mínimo, debería lucir como el esperpento de estereotipo de mujer científica creado por la serie The Big Bang Theory, Amy Farrah Fowler), sino porque, además, eso me incluyó en un bajo porcentaje de mujeres que acceden a una carrera universitaria a la que, además, pocas tenemos la posibilidad (o el interés) de pertenecer. Esta clase de comentarios generan un par de preguntas: ¿es realmente un cumplido ser demasiado linda para ser geóloga, científica o ingeniera? Y, si cambiamos el “linda” por “latina”, o “emocional”, o “mujer”, ¿Tiene sentido? ¿Está bien que ese porcentaje de mujeres que pertenecen o se interesen en carreras universitarias asociadas a las ciencias sea así de bajo? Existe la idea equivocada de que la ciencia fue hecha para los hombres, con base en argumentos infundados: durante la educación primaria y bachillerato, la atención está centrada en que los chicos tengan éxito en materias como matemáticas o física, mientras que a las chicas se les insiste en lenguaje y ciencias humanas. Desde temprana edad, se impone a las mujeres la idea de que su papel dentro de una comunidad está ligado a las labores del cuidado y apoyo en el hogar y en los mismos sistemas económicos, en donde son frecuentes los oficios de enfermeras, auxiliares, asistentes o secretarias, mientras que los hombres están destinados a la creatividad, el ingenio y los grandes descubrimientos (“detrás de un hombre, siempre hay una gran mujer”, guiño – guiño). Para la sociedad, lo racional siempre está relacionado a lo masculino y lo emocional a lo femenino, por tanto, los hombres son los que hacen ciencia, no las mujeres: para el año 2016, menos del 30% de los investigadores en todo el mundo fueron mujeres (Naciones Unidas, 2016) y para el 2019, el porcentaje de mujeres en el personal científico del CSIC (Consejo Superior de Investigaciones Científicas) fue de un 35,9 % (Comisión de Mujeres y Ciencia del CSIC, 2019). Tristemente estos prejuicios han sido evidenciados en un estudio que realizó Inoaka Amarasekara, una investigadora australiana de ciencias de la comunicación en compañía de Will Grant, quienes en un artículo expusieron cómo el camino para las mujeres que deciden hacer divulgación científica en YouTube es más complicado que para los hombres, ya que, según algunas cifras, las presentadoras obtenían una proporción mucho mayor de comentarios acerca de su apariencia (4,5 % para las mujeres contra 1,4 % para los hombres) y comentarios sexistas o sexuales (casi 3 % de los comentarios para las mujeres contra 0,25 % para los hombres) (Jeffries, 2018). Estos argumentos, además de los insultos disfrazados de cumplidos dirigidos a mujeres científicas o ingenieras, pueden llegar a formar discursos muy peligrosos que traen consigo discriminación (desde racismo hasta xenofobia), acoso de todo tipo, abuso de poder, condescendencia, falta de validación del conocimiento que nosotras generamos a través de nuestra labor, entre muchos otros problemas que se basan en la estigmatización sobre lo que las mujeres podemos o no hacer, decir o sentir. Otra de las principales razones que tienen las niñas y adolescentes para no estar interesadas en carreras de Ciencia, Tecnología, Ingeniería y Matemáticas (STEM) es la falta de visibilidad de modelos femeninos en etapas de escolaridad primaria y media. Tal como la extinción de los dinosaurios no es un referente único de grandes extinciones en el planeta tierra, Marie Skłodowska Curie no es el único modelo de mujer científica. Mujeres como Margaret Hamilton, catalogada como la primera ingeniera de software, cuyo papel en la misión Apolo XI fue importantísimo (López, 2017); y en la actualidad, las premio Nobel de Química del presente año, Emmanuelle Charpentier y Jennifer Doudna, o Katie Bouman, la mujer responsable de la primera foto de un agujero negro, son grandes ejemplos de que las mujeres podemos tener una gran relevancia en las ciencias. Otras mujeres como Hedy Lamarr, inventora austriaca dedicada a los sistemas de retransmisión de ondas por radiofrecuencia (Morrón , 2015), quien también fue la primera actriz en salir desnuda en la gran pantalla y tuvo una gran carrera en la industria cinematográfica; o la actriz protagonista en la serie The Big Bang Theory, escritora, cantante y doctora en neurociencias Mayim Chaya Bialik, con una gran carrera artística - además del terrible papel que tuvo que asumir en la afamada serie a la que ya he hecho referencia - son muestra de que no hay que crear sesgos. No es necesario hacer que una niña pierda su interés en temas de estética, artes o lo que sea que esté en su esencia para que tenga un alto interés en los planetas, los números, la química y otras áreas relacionadas. De hecho, cuando un ser humano tiene un alto interés en ambos temas, puede relacionarlos perfectamente y hacer grandes contribuciones en ambos campos. Como mujeres, es difícil afrontar los retos que supone lograr tumbar estos dogmas y abrirnos un campo en la comunidad científica , pero no es imposible; y es responsabilidad de todos, de hombres y mujeres que pertenecemos a esta comunidad. El tiempo ya nos ha demostrado que la ciencia no es solo para los hombres y ellos no deberían ser nuestra única oportunidad para acceder a oportunidades académicas, podernos quedar en un país extranjero haciendo una carrera, validar los conocimientos que desarrollemos por medio de nuestros proyectos, entre muchísimas cosas que podríamos hacer por nosotras mismas si estos sesgos de género no existieran. Tampoco se nos deberían reducir estas oportunidades por el estilo de vida que queramos llevar o por los intereses que tengamos. Finalmente, ser lindas, mujeres o latinas no nos hace menos inteligentes, poderosas ni científicas. Este año tuve que volver a escuchar que era demasiado linda para ser geóloga. Eso ya no lo consideré un halago, sino el recordatorio de todo lo que muchas mujeres científicas hemos tenido que pasar para hacernos un camino y abrirnos un espacio en campos académicos y laborales relacionados a las ciencias, de lo difícil pero satisfactorio que ha sido y la excusa perfecta para escribir esta entrada para el Blog. Muchísimas gracias a las editoras del GeolatinasBlog, Ale y Angelique por dejarme ser un portavoz de tan importante asunto y hacerme un campito en su maravillosa iniciativa, así como también al equipo de trabajo y a la edición de Adriana y Adrián. Y a ustedes, gracias por leer. Notas del autor. Muchas de las ideas acá mencionadas son recopilaciones de anécdotas propias, de amigas y colegas; es triste que hayamos tenido que pasar por algunas de estas experiencias, pero son ellas las que nos hacen tener más ganas de demostrar que las mujeres estamos en las ciencias para quedarnos. También fueron ideas apoyadas por el Podcast “Womansplaining”, específicamente los capítulos “¡Marie Curie no existe!” y “¡No puedes usar esa trusa sexy en el laboratorio!” , los cuales recomiendo plenamente. Referencias
Comisión de Mujeres y Ciencia del CSIC. (2019). Informe Mujeres Investigadoras. Madrid, España: Consejo Superior de Investigaciones Científicas. Jeffries, A. (18 de Julio de 2018). Las dificultades que enfrentan las mujeres que hacen ciencia en YouTube. The New York Times. López, A. (7 de Junio de 2017). Margaret Hamilton: “La primera ingeniera de software”. Obtenido de Mujeres con ciencia: https://mujeresconciencia.com/2017/06/07/margaret-hamilton-la-primera-ingeniera-software/ Morrón , L. (30 de Noviembre de 2015). Hedy Lamarr, la inventora. Obtenido de Mujeres con ciencia: https://mujeresconciencia.com/2015/11/30/hedy-lamarr-la-inventora/ Naciones Unidas. (2016). Women and girls in science day. Obtenido de https://www.un.org/es/observances/women-and-girls-in-science-day/ Entrevista con GeoLatinas: Josué Millán. Das montanhas e dos vales até os oceanos Por Angelique Rosa Marín Traduzido por João Victor Bezerra de Arruda Editado por Daniela Navarro & Mónica Alejandra Gómez Correa Uma prévia de quem é Josué Millán Josué Milán é um jovem de Caguas, Porto Rico. Desde o início de sua carreira como cientista, Josué procurou dedicar-se ao estudo de diferentes disciplinas enquanto cursava graduação na Universidade de Porto Rico, Campus Mayaguez (UPRM). Depois de ter iniciado seu bacharelado em biotecnologia industrial, conforme o tempo passava, ele percebeu que o currículo de seu programa não era interdisciplinar o bastante para ele. Tal currículo não satisfazia aos interesses pelos quais este jovem era apaixonado. Havia mais a ser explorado! Um dia, enquanto andava pelo campus, a caminho para enviar um fax, o “cagüeño” (gentílico da cidade de Caguas) se deparou com um panfleto que dizia “Astrobiologia.” Aquilo rapidamente chamo sua atenção, e ele se perguntou: “Astrobiologia? O que é isso?” Sua grande curiosidade, qualidade característica dele, foi o que ajudou-o a decidir continuar explorando outros horizontes. Com uma mente aberta e determinado a achar sua vocação, Josué decidiu pedir transferência para o programa de Microbiologia Industrial. Naquela época, esse era o programa que mais englobava tópicos relacionados à Astrobiologia em sua universidade. Lá, ele encontrou a combinação de duas das matérias mais importantes e interessantes para ele: Microbiologia e Geologia. Depois de se formar em Microbiologia Industrial na UPRM, em 2012, o jovem procurou por oportunidades para começar seu curso de pós-graduação. A pressão devido à falta de opções na ilha era (e continua sendo) um fator determinante para pós-graduandos. Contudo, uma chance de realizar um mestrado em Oceanografia Biológica na UPRM surgiu para Josué, e mesmo com um certo nível de incerteza, ele se aproveitou dela. Durante seu curso de pós-graduação, Josué descobriu termos como “cocolitóforos” e “mudança climática.” Mais uma vez, tais palavras chamaram sua atenção e despertaram a curiosidade do “cagüeño”. Seguindo seu instinto, o Porto-riquenho das montanhas começou a se aprofundar no estudo desses tópicos. Nesse período, ele conheceu um professor do seu campus universitário que parecia uma ótima pessoa para orientar seu projeto de tese. Millán percebeu que os cocolitóforos, a relação deles com mudança climática, e os ecossistemas marinhos permitaram-no combinar diferentes tópicos em seus estudos, tornando seu trabalho científico o mais interdisciplinar possível, mesmo que ele tivesse um pé atrás com o oceano. Finalmente, o “cagüeño” havia encontrado sua vocação! Falta de oportunidades em Porto Rico Muitos obstáculos obstruíram o caminho de Millán durante seu mestrado. A falta de assistência financeira para o desenvolvimento de seus projetos de pesquisa em muito impactou o avanço de seu trabalho. Josué logo começou a trabalhar em um mercado. Ao mesmo tempo, ele estudava e pesquisava, tudo para conseguir ter dinheiro para se sustentar dia após dia. Por um bom tempo, ele precisou dirigir duas horas (ida e volta) para outros laboratórios da UPR com a finalidade de trabalhar com suas amostras, já que os recursos para completar sua análise eram escassos. “Algo muito comum em Porto Rico”, Josué diz. Sempre focado e determinado a alcançar seus objetivos, ele percorria quase toda a ilha para atender às suas necessidades pessoais e acadêmicas. Com todas as variáveis que Josué teve que enfrentar, Millán viu-se em um período marcado por muita pressão e incerteza. Esses sentimentos eram agravados em grande parte devido aos problemas políticos que afetavam a ilha. Naquela época, os fundos da UPR haviam sido congelados devido à ineficaz administração do governo. Isso causou uma tensão financeira para a instituição, o que comprometeu a responsabilidade educacional dela perante seus estudantes. Consequentemente, a UPR ficou paralisada por bastante tempo, pois seus alunos e funcionários entraram em greve em todos os campi para pedir pelo fim dos cortes no fundo da universidade. Tendo sido vítima da negligência da administração da ilha, Josué tem um importante papel em ações ativistas promovidas em solidariedade a outros estudantes, docentes, e ao país. Neste contexto, não foram apenas os estudantes que foram afetados. O orientador da tese de Josué decidiu assumir uma posição no corpo docente da Indiana State University. Infelizmente, isso foi crucial para que o desempenho do Porto-riquenho fosse afetado. Em suma, após três anos de altos, baixos, e muito esforço, Josué teve que abandonar sua pós-graduação. É então que este resiliente jovem retorna à sua cidade-natal, Caguas. No processo de mudança, Josué encontra um trabalho no “Centro de Ciencias y Technologia”, onde seu desempenho é excepcional. Reconhecendo o trabalho “classe A” que Josué forneceu à empresa, sua chefe o informa da possibilidade dele fazer um doutorado em Georgia Tech. Ela havia completado seu doutorado na mesma instituição. Sua chefe estava à procura de alguém com conhecimento prévio em microbiologia para continuar um projeto que ela havia começado envolvendo microrganismos em nuvens. Além disso, o jovem tinha agora a oportunidade de continuar sua pós-graduação em Georgia Tech. Ademais, ele também tinha a chance de estudar microrganismos da zona polar no Arizona. Contudo, o ativista decidiu continuar explorando suas opções e acabou candidatando-se à Georgia Tech. No processo de candidatura, ele contatou seu ex-orientador para pedi-lo uma carta de recomendação. Para sua surpresa, o ex-orientador acabou mencionando a possibilidade de Josué se candidatar para um programa de doutorado na Indiana State University, onde o jovem poderia trabalhar sob sua orientação e continuar o projeto de pesquisa que eles haviam começado anos atrás na UPRM. Millán então decide se candidatar para o programa de Ciências da Terra e do Espaço na Indiana State University, onde trabalharia com seu antigo orientador. Por um momento, a utopia de Josué estava tomando forma. Ele sempre desejou participar de um currículo interdisciplinar como aquele, além de desejar trabalhar com uma pessoa que tivesse um interesse similar nesses tópicos. Atualmente, ele está em seu quarto ano como estudante de doutorado na Indiana State University, sob a supervisão de seu antigo orientador. Ele já finalizou seus cursos e passou em todos os exames qualificatórios, o que significa que, de agora em diante, podemos chamá-lo de Josué Millán, o Candidato a Ph.D. Vivendo na Indiana, o “cagüeño” já superou outros desafios, agora como um homem que faz parte da comunidade LGBTQ+ e também como o primeiro estudante Latino de seu departamento. Contudo, esses não têm sido os seus principais obstáculos. Pelo contrário, tais fatores despertaram no jovem um interesse em ser uma voz ativa na luta por igualdade de gênero no mundo da ciência. Com isso em mente, Josué tem se envolvido na inserção de minorias em seu departamento. Ele se envolveu em iniciativas que vêm ajudando-o a continuar seu trabalho e missão, tanto como cientista, como quanto pessoa. Como ele participa do GeoLatinas? Visando aumentar a visibilidade dessas minorias no âmbito profissional, Josué assumiu o dever de encontrar melhores caminhos para completar sua missão. Devido a sua participação em um workshop no qual ele explicou a importância do uso de redes sociais na comunidade científica, o “cagüeño” passou a utilizar as mídias sociais como um método de comunicação e como uma ferramenta para diversificar a comunidade científica. De todas as redes sociais disponíveis, ele decidiu criar uma conta no Twitter, o que lhe deu poder para engajar com a comunidade científica e interagir diretamente com seus seguidores. Usando o Twitter como uma ferramenta para recrutar minorias, ele se deparou com uma dos co-fundadoras do GeoLatinas, Dra. Rocio Caballero-Gill, que compartilhou alguns “tweets” publicados por Josué. E foi assim que Millán começou a se envolver com o GeoLatinas. Josué Millán se torna um membro do GeoLatinas! Essa foi uma oportunidade excelente para utilizar a organização como veículo para intensificar as ações de Josué e incrementar o número de mulheres latinas em seu departamento. Extremamente consciente da situação atual das minorias no mundo científico e acadêmico, Josué queria ter certeza de que iria encontrar uma mulher qualificada para o posto, visando evitar dúvidas em sua universidade pelo simples fato dela ser mulher ou por querer “completar cotas” de diversidade em seu departamento. Seu objetivo era que não houvesse dúvida de que qualquer pessoa que fosse escolhida havia sido selecionada com base em suas habilidades como cientista. A partir disso, podemos perceber como a população Latina sempre tem algo a mais a provar, pelo simples fato de sermos quem somos. O que é mais incrível sobre Josué é que ele entende a desigualdade social contemporânea e a diferença de oportunidades entre homens e mulheres no mundo das geociências. Portanto, ele apoia organizações como o GeoLatinas; compartilhar é conhecimento, tempo e energia para diversificar a disciplina. Ele está ciente de que ser Latino na área das geociências é desafiador por si só. Entretanto, ele diz, “Imagine, ainda, se você for uma mulher…”. Com isso em mente, o “cagüeño” motivou-se a socializar, persuadir, conservar, informar, educar, encontrar e reconhecer talentos científicos Latinos. E no atual dia, Josué Millán é considerado o agente facilitador e recrutador do GeoLatinas. Durante o seu doutorado, Josué passou por circunstâncias complicadas. Os desafios que o Porto-riquenho enfrenta pelo simples de fato de ser quem ele é, um ser humano único, têm sido um fator que comprometem seu bem-estar e suas oportunidades profissionais. Contudo, o GeoLatinas tem atuado como um guia e apoio para que ele possa superar todas as dificuldades. Mais do que isso, o GeoLatinas serve de refúgio para Josué. Foi onde ele encontrou pessoas com quem ele pode contar, confraternizar, e simpatizar. Como parte da organização por um ano e meio (e contando), Millán reconhece que o GeoLatinas é uma comunidade onde o apoio que você recebe dos membros é incondicional, tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Seu sentimento de pertencimento aumenta mais e mais quando ele se vê rodeado de GeoLatinxs, onde sempre que você expõe uma nova ideia que você quer fazer, a resposta é: “Sim, e…?”, “Como iremos fazer isso?”. No GeoLatinas, “Você entra e não há volta…” Millán brinca. Ele reconhece que a estrutura circular da organização promove muitas oportunidades de crescimento, possibilitando a prática e desenvolvimento de habilidades essenciais para cientistas. Por exemplo, liderança, comunicação, e colaboração científica. O GeoLatinas é uma organização virtual, onde nós trabalhamos sem fronteiras, somos internacionais, oferecemos a oportunidades de sempre “levar a organização com você…” expressa o Porto-riquenho. Além disso, Josué sente que o GeoLatinas lhe deu espaço para pôr em prática sua missão de procurar por igualdade de gênero e de raça no mundo acadêmico. Até porque ele acredita que: “Nós também temos que ter voz dentro de nossa própria comunidade.” As iniciativas do GeoLatinas que Josué julga essenciais no seu dia-a-dia são, por exemplo, a reunião semanal para dizer “Olá!”. Como parte da iniciativa de bem-estar, toda Quinta-Feira, nós separamos um momento para socializar e ver como os membros estão durante a semana. Ademais, ele gosta dos boletins informativos que são criados a cada quatro meses. Nesses boletins, nós destacamos as conquistas de nossos membros, novas iniciativas, experiências, participação em eventos e conferências, e muito mais. O “cagüeño” reconhece que receber e ler o boletim informativo é motivador e inspirador para ele. O boletim dá a ele uma ideia das coisas recentes que a organização fez, e ele finaliza a leitura de cada com muito entusiasmo e esperança. Josué pergunta a si mesmo: O que será do GeoLatinas em cinco anos? Nós queremos mais “cagueños” como Josué Provando que nada é impossível, se você é apaixonado pelo que faz e tem seus objetivos bem estabelecidos, Josué Millán é um exemplo de superação das adversidades. Este jovem das montanhas nos dá um exemplo das injustiças que o sistema faz nós Latinas experimentarmos, e que nos impede de alcançar nossos sonhos. Nós precisamos de mais humanos como Josué Millán na sociedade.
|
Editors-In-ChiefsAngelique Rosa Marín Archives
June 2021
Categories |