O abismo que separou as mulheres da ciência Escrito por Aline Guimarães Editado por Milena Marília Nogueira de Andrade De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), menos de 30% dos pesquisadores de todo o mundo são mulheres. Apesar de, atualmente, tal assunto ser mais discutido e combatido, a disparidade de gênero nas áreas científicas ainda é bastante notável e desencoraja meninas a seguirem essas profissões. Mas por que as mulheres ainda são minoria? Para alguém com pouco – ou nenhum – conhecimento sobre esse problema, é fácil responder que “se existem poucas cientistas, é porque as mulheres não gostam e/ou não tem interesse nessa área”. Em outros casos, comentários podem vir como brinde: “As maiores e mais importantes descobertas científicas foram feitas por homens!” Por muito tempo, o espaço feminino na intelectualidade foi proibido. No Brasil, por exemplo, somente por volta do século XIX que as mulheres – provenientes de famílias ricas – tiveram acesso à educação, sendo essa mais voltada à forma como se comportariam em sociedade. O cálculo, inclusive, era permitido apenas aos homens até então. No começo do século XX, a carreira científica já era enxergada como masculina. Seguindo o mesmo tipo de pensamento, as diversas áreas de conhecimento foram se dividindo entre o que deveria ser exercido por um homem e o que deveria ser exercido por uma mulher. Por exemplo, a Filosofia, a Geologia e a Matemática seriam profissões masculinas. O cálculo, inclusive, era permitido apenas aos homens até então. Além disso, quando não havia a proibição do acesso feminino a essas áreas, ocorria o fenômeno de ocultação. Exemplificativamente, temos Rosalind Franklin, britânica que conduziu os estudos sobre o formato do DNA. Franklin conseguiu detectar e fazer anotações acerca da estrutura da molécula. Todavia, com acesso às observações da cientista, James Watson e Francis Crick, guiados pelo chefe Maurice Wilkins, confirmaram a estrutura do DNA, o que rendeu um Nobel de Medicina para o trio no ano de 1962. Em nenhum momento foi dado créditos à cientista e tampouco foi citado seu nome. Além disso, Wilkins e Watson, através de cartas trocadas entre os dois, chamavam Rosalind de “bruxa” e não admitiam a presença dela no laboratório. Portanto, como seria possível para essas mulheres se sentirem compelidas à ciência? E, pior ainda, se algum interesse científico existisse , este teria sido imediatamente ofuscado ou desencorajado. No livro Um teto todo seu, de Virginia Woolf, a escritora faz a seguinte reflexão: “Alguém deveria ter colocado um microscópio na mão dela. Alguém deveria tê-la ensinado a admirar as estrelas e raciocinar cientificamente. [...] Ninguém a ensinava.” Hoje, muitas barreiras foram ultrapassadas em relação à desigualdade de gênero, mas muitos outros obstáculos ainda estão por vir. A inserção da mulher na ciência é equivalente à redução desse grande abismo, uma vez que, em situação de protagonismo, as próprias cientistas têm a capacidade de criar tecnologias inclusivas e promover ambientes onde homens e mulheres dividam a área científica. Além disso, inserir as meninas desde cedo nesses campos contribui ainda para aproximá-las da ciência, desconstruindo estereótipos. Assim, mesmo com tantas adversidades, atitudes como essas nos fazem esperar por um futuro com equidade, e, como dito por Woolf, “tranque as bibliotecas, se quiser; mas não há portões, nem fechaduras, nem cadeados com os quais você conseguirá trancar a liberdade do meu pensamento.” Referências - Woolf, Virginia. Um teto todo seu. Tordesilhas, 2014. - Chassot, Attico. "A ciência é masculina? É, sim senhora!..." Revista Contexto & Educação 19.71-72 (2004): 9-28. - https://canaltech.com.br/internet/mulheres-historicas-rosalind-franklin-a-injusticada-mae-do-dna-78101/ - http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=422 - https://news.un.org/pt/story/2020/02/1703721 - https://blogueirasfeministas.com/2017/09/04/a-trajetoria-de-exclusao-da-educacao-feminina-no-brasil/
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29/9/2022 05:51:14 am
Buenos días señor / señora,
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